Antes de tudo, Zimbardo entende que a maldade é uma questão de poder. É o exercício de poder para intencionalmente inflingir a alguém o mal psicológico ou físico. Ele identifica, então, os sete processos sociais capazes de tornar uma pessoa mais suscetível a cometer algum tipo de maldade:
1. Dar o primeiro pequeno passo sem pensar:  normalmente algo quase insignificante, mas que abre as portas para  abusos cada vez maiores e que, quando aumentado pouco a pouco, não se  percebe o resultado final. Como um choque de 15 volts.
2. Desumanização do outro: é mais fácil fazer mal a  alguém quando não se vê ou não se sabe quem é essa vítima. Os  prisioneiros de Stanford não se chamavam John ou Peter, mas 416 e 325.
3. Desumanização própria: quando se está anônimo  numa multidão, sua maldade é diluída entre os demais. O antropólogo R.  J. Watson estudou 23 culturas em seus processos de ir à guerra. Dos oito  povos que íam para a batalha sem pinturas ou ornamentos específicos,  apenas uma tinha alto grau de violência, isto é: torturavam, mutilavam  e/ou matavam seus inimigos. Mas dos outros quinze que mudavam a  aparência (ou se escondiam atrás de óculos escuros espelhados e  uniformes padronizados), tornando-se anônimos, doze matavam e mutilavam.  Ou seja, das que matavam e mutilavam, 12 entre 13 mudavam a aparência.  Mais de 90%.
4. Difusão da responsabilidade pessoal: quando um  criminoso é linchado, a culpa é da multidão e não dos socos e pontapés  individuais. Mais do que a covardia do grupo, representa a diluição da  culpa.
5. Obediência cega à autoridade: como demonstrado  por Milgram, a autoridade também funciona como pára-raios para  atribuição de culpa de quem apenas executa ordens.
6. Adesão passiva às normas do grupo: odiar a  torcida adversária faz parte do ritual de vestir o uniforme do seu time -  mesmo que o seu irmão esteja do outro lado da arquibancada. Mesmo que  você odeie uma pessoa que nunca viu apenas por causa das cores que  ostenta.
7. Tolerância passiva à maldade através da inatividade ou indiferença:  muitas vezes o indivíduo não é o responsável direto pela maldade mas  permite, inabalável, que ela seja praticada, conforme descrito no texto sobre Latané e Darley.
Quando essa cadeia de eventos ocorre numa situação que não lhe é familiar, ou seja, onde seus habituais padrões de resposta não funcionam,  você está pronto para perpetrar o mal - e nem se dará conta disso. Sua  personalidade e princípios morais já estarão desligados.
O autor explica que a chave para tal comportamento está na situação em que a pessoa se encontra e na enorme influência que ela tem sobre os indivíduos. O sistema formado pelo conjunto de bases acadêmica, cultural, social e política do indivíduo cria as situações que haverão de corrompê-lo.
No Experimento de Stanford, os papéis de guardas e prisioneiros  faziam parte do repertório dos voluntários. Assim que os sorteios foram  realizados, cada um encaixou-se ao seu papel automaticamente, de acordo  com os estereótipos pré-concebidos.
Para mudar uma pessoa, prossegue, você tem que mudar a situação. E se quer mudar a situação, precisa entender em que parte do sistema está o poder.  É necessário identificar e remover do ambiente o elemento dessa equação  determinante para que o voluntário assuma o seu papel de guarda sádico e  mantenha-se ali.
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